INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO SOBRE O LIPOCROMO

João F.Basile da Silva

É do conhecimento dos canaricultores que o principal responsável pela expressão quantitativa do lipocromo é o fator genético.

Sem uma herança genética de qualidade o lipocromo dos canários com seu fator vermelho será sempre prejudicado.

Em vista dos criadores europeus, e tendo participado do julgamento de uma exposição na Itália, onde auxiliamos um juiz COM na pontuaçáo de canários lipocromicos amarelos (intensivos, nevados e mosaico), um fato nos chamou bastante a atenção: o lipocromo, principalmente dos canários sem fator vermelho era de excelente qualidade, tanto em pureza como intensidade.

Inicialmente atribuimos tal qualidade exclusivamente a fatores genéticos, porém a partir de depoimentos de outros criadores que haviam importado este tipo de canário, fomos informados que após a mudança de penas, no Brasil, sob regime alimentar habitual e normal, percebeu-se uma mudança ainda que sutil, na qualidade dos referidos lipocromos.

Procurando interpretar o que poderia ter ocorrido, pensou-se inicialmente que os criadores europeus poderiam estar ministrando algum produto que pudesse realçar as qualidades do lipocromo.

Pesquisando na literatura pertinente alguma informação teórica que pudesse confirmar tal fato, acabamos chegando a uma conclusão bem diversa do que pensou inicialmente. O criador europeu não fornece nenhum produto especifico que melhore a qualidade do lipocromo dos canários sem fator vermelho. Por outro lado, o regime alimentar habitual adotado pelos criadores brasileiros fornece em excesso substâncias que colaboram para que haja uma queda de qualidade do lipocromo dos nossos canários (isso ocorre, como veremos, tanto nos canários com como nos sem fator vermelho).

As substâncias em questão pertencem ao grupo dos carotenóides. O criador europeu fornece aos seus canários uma dieta que contém uma quan tidade de carotenóides substancialmente menor que a autilizada pelos criadores brasileiros, principalmente no tocante à zeaxantina.

Convém lembrar novamente que o fator genético é o grande responsável pela qualidade de lipocromo, e náo há regime alimentar que possa compensar uma deficiência genética neste sentido.

Como alimentos ricos em carotenóides que fornecemos aos nossos pássaros podemos citar: gema de ovo, milho amarelo e verduras. Tais elementos, que são de extrema importância na nutrição dos canários, trazem em sua composição uma quantidade significativa de carotenóides, e em especial a zeaxantina, pigmento existente no milho amarelo e que é depositado pelas galinhas na gema dos ovos. Tal pigmento, uma vez depositado nas penas dos canários, é responsável pelas tonalidades amarelos / laranjadas que se misturam as tonalidades mais puras do lipocromo. Sabemos que as tonalidades que tendem para o laranja sáo indesejáveis no lipocromo com ou sem o fator vermelho.

Nos canários vermelhos, sabe-se que por ocasiáo da disposição dos pigmentos corantes, existe uma disputa por espaço, ao nivel das células, entre a cantaxantina e os carotenóides, principalmente a zeaxantina. Essa disputa por espaço se aplica também e da mesma maneira no caso dos canários sem fator vermelho. O que acontece, então, é que se fornecemos uma dieta rica em zeaxantina, a sua participação na pigmentação das penas dos canários será proporcionalmente maior, e o resultado final que se observa é o amarelo se afastando do amarelo-limáo, e o vermelho que se manifesta com influência de tons alaranjados.

Como dissemos anteriormente, os alimentos ricos em carotenóides são de grande importância na nutrição dos canários, pois são fontes importantes de proteinas e vitaminas. Na busca de uma melhor qualidade de lipocromo, devemos, por ocasião da muda de penas, procurar substituir tais alimentos por outros que possuam menor quantidade de carotenóides mas que garantam o mesmo aporte de proteinas e vitaminas.

As verduras (a coloração verde tem relação direta com a quantidade de carotenóides) podem ser substituidas por frutas ou outros vegetais com menor quantidade de carotenóides. O milho amarelo pode ser substituido pelo milho branco, cuja composição quimica é praticamente a mesma, a não ser pelo teor de proteinas do milho branco é exatamente o mesmo milho amarelo. A gema do ovo que no caso representa uma fonte de proteina e de boa qualidade, pode ser substituida, ao menos em parte, por outras fontes de proteinas eficientes como a caseina ou leveduras. Como esses produtos não são de fácil acesso ao canaricultor, devemos procurar adquirir ovos cujas gemas sejam menos amarelas, o que ocorre mais com ovos de casca branca. O ovo chamado de "caipira", com gema "vermelha" é totalmente contra indicado.

Voltamos a lembrar que o principal fator de qualidade do lipocromo é o fator genético, e que os alimentos ricos em carotenóides são muito impor- tantes na nutrição dos canários.

Por isso, não devem simplesmente ser suprimidos mas sim substituidos, por ocasião da muda de penas, por outros alimentos que continuem a fornecer os mesmos níveis de proteinas, vitaminas e outros elementos nutritivos.